Mulheres
de Meia
Há algum tempo, resolvi criar um blog com o título
“Mulheres de meia”. Então, iniciei uma pesquisa informal, perguntando a
diversas pessoas, ao que lhes remetia essa expressão. Bem, ouvi de tudo!
Mulheres de pijama, indo dormir; mulheres com febre, de agasalho e meia;
mulheres jogadoras de futebol e, a maioria: mulheres de meias finas. Apenas
três pessoas responderam o que eu esperava.
Bem, o que são, afinal, as tais Mulheres de Meia? Não são e nem poderiam ser mulheres calçando
meias, como a maioria de meus pesquisados respondeu, pois, nesse caso, teríamos
um grave erro de concordância: se “mulheres” está no plural, o complemento
também devem estar, ou seja, mulheres calçam meias. Bem, então só resta o
óbvio, que eu achei que todos matariam de primeira: mulheres de meia idade.
Hoje vivemos de uma forma segmentada, com nichos bem
definidos, seja na área do comércio, do marketing, da saúde, da educação. Temos
as crianças, depois a geração teen,
os adolescentes, o mais elástico dos períodos! Antes, desde que foi instituído
o conceito de adolescência, essa fase ia dos 14 aos 19 anos, hoje vai dos 11,
12 até os 30, às vezes até um pouco mais... Depois vêm os adultos e pula-se
para a terceira idade, artificialmente chamada de “melhor idade” (não concordo
com esse termo, para mim, a melhor idade é a nossa idade, a idade que temos
hoje, não importa qual seja ela). E nessa conceituação, perdem-se num limbo as
pessoas de meia idade.
Uma amiga muito querida, que carinhosamente chamo de
Luíza Mel, por ser apicultora, me diz que não gosta da expressão “meia idade”,
por lembrar algo “meia boca”, incompleto.
Eu discordo dela, considerando a meia idade como o ápice da vida, aquele
momento em que se atinge o cume da montanha cuja escalada foi iniciada na
infância, cujas trilhas foram definidas na adolescência e redefinidas na vida
adulta (que para mim é sinônimo de juventude). Chegamos ao ápice, ao pico da
montanha, e agora? Realizamos grande parte dos nossos sonhos ou desistimos
deles na impossibilidade de realizá-los, ou por ver que eles não eram tão
fundamentais quanto acreditávamos que fossem. Se tivemos filhos, geralmente
eles já não estão conosco, e, muitas vezes, nem os nossos amores.
Esta é uma fase em que, geralmente, salvo raras e felizes
exceções, nos encontramos sós. Podemos estar realizadas profissionalmente – ou
não, podemos ter coragem de dar uma guinada, mudar de profissão, tornar
realidade aquilo que só fazíamos por hobby;
podemos decidir por uma separação ou, se sozinhas, é a fase em que mais
queremos encontrar um grande amor, um amor maduro, sem muitas das ilusões
românticas que nutrimos no passado – ou talvez mais românticas do que nos
permitirmos ser no passado. Essa é uma fase de cisão, de rupturas, de grandes
decisões, de maturidade, de equilíbrio, de segurança, de coragem, embora possa
ser também uma fase de tristeza, de luto, de dificuldade de superação das
perdas inevitáveis e necessárias. É a fase em que, se calçamos 37, já não
aceitamos que nos façam calçar 36, como diz uma música do Raul Seixas, onde ele
afirma: “Dói, mas no dia seguinte eu machuco meu pé outra vez.”.
Esta é uma fase em que decidimos escolher nossos próprios
sapatos, aqueles que verdadeiramente se adéquam ao conforto dos nossos pés; já
não aceitamos continuar machucando-os para agradar outras pessoas, para nos
adaptarmos a convenções e normas que nos engessam. Esta é a época da liberdade,
a época do tudo posso, mas nem tudo quero. A época madura que nos remete às
sábias palavras do Apóstolo Paulo: “Tudo me é permitido, mas nem tudo me
convém.”. Aos 15, 20, 30, queremos tudo e achamos que podemos tudo. Na meia idade, que segundo os estudiosos,
gira entre os 37 e a proximidade dos 60, nós podemos tudo, mas, já não queremos
tudo. Sabemos selecionar, sabemos optar pelo melhor, pelo mais conveniente ao
nosso estado de espírito, ao nosso eu, à nossa verdade.
Como mulher, e como mulher de meia idade, às vésperas dos
50 anos, escolhi falar para minhas semelhantes. Não excluo os homens e creio
que, se sábios, tentarão ao máximo conhecer o poder, a força e também a
delicadeza, a sutileza e as fragilidades de uma “mulher de meia”. O assunto é
muito abrangente e o universo é imenso, por isso optei por fazer um recorte,
para falar daquilo que sei, daquilo que conheço, daquilo que experimento. Assim,
este será um espaço para se falar, questionar, buscar respostas para as grandes
questões dessa mulher em sua fase mais sublime e iluminada, que é a meia idade,
quando ela pode já não estar com tudo em cima, ter algumas estrias, um pouco de
celulite, rugas se anunciando, cabelos brancos se multiplicando embaixo das
nuances da Biocolor ou da Loreal, mas ela tem algo de valor incalculável, um
tesouro sem igual, ela tem, talvez pela primeira vez, a si mesma e o poder de
escolha e de decisão. E só a ela compete decidir o que fazer no topo de sua
vida.
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