domingo, 24 de maio de 2015

Procura-se um grande amor


     Procura-se um amor que busque repouso e traga aconchego. Que tenha braços fortes para sustentar uma mulher forte, mas que tenha mãos delicadas para acariciar uma mulher suave. Que traga nas faces sulcos feitos pelo tempo e que tenha a gentileza de tirar para dançar uma sorridente menina vestida com a roupagem de uma mulher de meia idade.
     Procura-se um amor que, ainda que não faça tudo o que ame, ame tudo o que faz e seja satisfeito consigo mesmo, com sua profissão, seus afazeres, sua vida e, em não estando satisfeito, que esteja verdadeiramente disposto a mudar e aventurar-se num novo recomeço.
     Procura-se um amor que tenha disponibilidade para estar presente nos momentos importantes, que tenha o desejo sincero de compartilhar, mas que preze a sua individualidade e respeite a minha; que saiba caminhar junto, mas com espaços entre os dois, a fim de não sufocarmo-nos.
     É imprescindível que acredite em Deus acima de qualquer outra coisa. Que não tenha uma fé vaga e utópica, uma religiosidade de conveniência e nem o farisaísmo e a arrogância doutrinária. É bastante adequado que partilhe a mesma crença que eu, pois, conquanto respeite a diversidade religiosa, já vivi o bastante para compreender que uniões em jugo desigual são muito desgastantes, portanto, que seja católico, e católico praticante, não apenas de fachada. Se for membro ou simpatizante da Renovação Carismática, ainda melhor, pois assim falaremos as mesmas línguas: a dos homens e a dos anjos.
     É fundamental que seja livre, emocionalmente disponível e aberto para viver um grande amor; que não viva à busca de aventuras fugazes, mas que tenha maturidade para aventurar-se nos intrigantes caminhos de um amor maduro, pautado na lealdade e na fidelidade. E, quando digo livre, é bom falar com toda a clareza: que não seja casado, namorado, amante, enrolado em qualquer tipo de relacionamento mal resolvido. E que queira e possa casar-se na Igreja. Que tenha equilíbrio para viver um namoro casto que pode não passar de namoro, mas que se disponha a ser bem mais que isso.
     Que tenha bons amigos, abertos a aceitarem a minha companhia, e um coração com espaço bastante para acolher os meus amigos. Que seja disposto à soma, à multiplicação, à ampliação e não à divisão, a diminuição, à redução, ao apequenamento.
     Pode ter um pouquinho de ciúmes, mas, só um pouquinho, para temperar a confiança mútua. Que traga feridas, mas já cicatrizadas ou em processo efetivo de cura, e que saiba respeitar as marcas que em mim foram deixadas pela vida, sem querer mudá-las.
     Ah, é fundamental que seja alegre, bem humorado, que ame a vida e veja uma imensidão de possibilidades em cada amanhecer. Que tenha o dom de me fazer rir e que se divirta com as minhas piadas. Pode até roncar um pouquinho, mas que sempre tenha nos lábios um “Bom dia, querida!” e que jamais adormeça de cara feia, sem um “Boa noite, princesa!”. Que traga encanto, aconchego e carinho às minhas noites, que as prolongue até as madrugadas, e que se disponha a deixar-se ser completamente amado e saciado por minhas carícias. Que adormeça sereno, me aquecendo com o calor do seu corpo e que não ria por eu sempre dormir de meias. É, pode roncar um pouquinho.
     Não precisa ser um padrão de beleza, mas que não seja desleixado, que se aprecie, que valorize seus pontos fortes e conviva bem com os pontos fracos; que se saiba único, que cuide de sua saúde, use perfumes gostosos, tenha sempre o desejo de estar bonito para deleitar meus olhos. Que não espere de mim esplendores de fruta verde, mas que se disponha a degustar com calma o meu sabor de fruta madura. E que jamais insinue que silicone cairia bem em alguma parte do meu corpo, sou absolutamente natural e em paz com o vigor de meus 50 anos. E que seja alto, pois tenho 1,75m e gosto de usar salto!
     Que seja presente, pois já reencontrei amores de outrora e, conquanto isso seja encantador e nostálgico, ainda que minha alma deseje, meus pés não podem percorrer o terreno do passado; apenas a estrada do hoje me pertence e me conduz aos encantos de um futuro sonhado. Que se dê no tempo do hoje o nosso encontro – e que seja breve.
     Ah, nem preciso falar que é condição “sine qua non” que goste de ler (rs), ainda que não escreva. Que aprenda a viajar nos meus textos, que me incentive nos meus voos literários e tenha sabedoria para respeitar a minha necessidade de solidão quando estou compondo.
     Também não espero que seja rico, mas que tenha uma economia equilibrada. Que não seja sovina e nem perdulário. Que não dê ao dinheiro nem mais e nem mesmo importância do que ele deve ter para uma vida sem desnecessários percalços. Que saiba, com muita clareza, dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
     Se tal encantador amante morasse em minha cidade, seria algo como tirar a sorte grande, comprar o bilhete premiado, mas, não importa de onde seja, é importante que se disponha a mudar-se para as montanhas de minha Atibaia, pois não tenho planos de deixar meu recanto, que venho construindo há anos para recebê-lo e abrigá-lo, um lugar de sonhos.
    Ah, seria interessante que tivesse um carro com tração nas quatro rodas, porque chegar aqui é algo meio próximo do rali Paris/Dakar. É para pessoas que valorizam mais o caminho do que o meio de transporte. É tipo assim Fusca, Jipe, Rural... Mas, isso é só um detalhe, eu tenho um excelente mecânico e já sou praticamente cliente vip da oficina de alinhamento, balanceamento, troca de suspensão e amortecedores! Portanto, aqueles moços simpáticos que têm verdadeiros casos de amor com seus carros luxuosos, infelizmente terão de ser descartados...
     Que tenha cultura e conhecimentos diversificados, porém, mais que isso, que possua sabedoria. Que conheça uma porção de coisas e goste de conversar sobre elas, que goste de ensinar o que sabe e aprender coisas novas. Que não seja do tipo arrogante, que preze muito ter razão em tudo; que, assim como eu, conquanto um pouquinho teimosa de vez em quando, já tenha aprendido a escolher ser feliz em vez de ter sempre razão. Que não seja excessivamente problemático, mas, que tenha suficientes imperfeições para não ser um chato! 
     Precisa ser apaixonado por cachorros, pois vivo cercada deles e ainda me relaciono com alguns dispersos pela vizinhança. Que não ria de mim por eu não saber andar de bicicleta, mas, que esteja disposto a ensinar-me. Que nunca diga que eu dirijo mal, mesmo quando eu dirigir mal (não existe coisa mais irritante que homem que critica uma mulher ao volante!).
     Adianto que cozinho bem, que tenho uma relação meio alquímica com o ato de cozinhar, mas apreciaria imensamente que meu futuro amor também o fizesse, que cozinhasse para mim, que cozinhássemos juntos, que nos auxiliássemos nessa arte e, sobre aquela parte de lavar a louça... bem, é claro que um homem especial como esse que caminha ao meu encontro amará lavar, secar e guardar a louça e, claro, limpar o fogão de vez em quando!
     O que mais posso esperar desse amor sonhado? Que seja carinhoso, que goste muito de beijar na boca, fazer coisas bobas como andar na chuva, namorar na varanda em noites de lua cheia, ficar de bobeira na rede, jogando conversa fora, andar abraçado ou de mãos dadas, abrir a porta do carro, carregar as compras. Que tenha disponibilidade para cuidar e abertura para ser cuidado.
     Que goste de levantar cedo e que se deleite com o pôr-do-sol, do tipo que para o carro na estrada para apreciar esse momento mágico. Que se extasie com o arco-íris. Que ria muito e me faça rir muito, e nunca me peça para não chorar e muito menos que não tenha coragem de chorar.
     Que não seja muito dado à bebida, apenas um vinho de vez em quando, eventualmente uma cervejinha ou o trago de uma boa pinguinha de alambique. Que tenha aversão ao cigarro e, preferivelmente, não seja fanático por futebol, do tipo que assiste 47 reprises do mesmo jogo num único domingo... Que goste muito de música de um modo geral, mas deteste pagode e curta moda de viola.
     Que jamais grite comigo e nunca admita que eu grite consigo; que converse sempre olhando nos olhos. Que me permita descalçar-lhe os sapatos e massagear seus pés e que também se disponha a fazer isso com os meus. Que não se sinta ameaçado com a minha independência e nem me fira com a sua. Que tenha a força de admitir-se fraco e a coragem de se reconhecer aprendiz. Que ame a viagem mais do que o destino e o repouso mais do que a agitação inútil. Que seja romântico, mas sem ser pegajoso. Que opte pelo silêncio em vez dos lugares comuns e frases feitas, como dizer a uma pessoa deprimida para ter força de vontade.
     Que tenha noção de suas imperfeições e defeitos, mas que tenha a ousadia de superar-se. Que tenha amor à disciplina, que seja caridoso e tenha interesse real pelas pessoas. Seria bom que tivesse filhos, pois é sublime ser agraciado com essa bênção, mas, que, tendo-os ou não, ainda considere a possibilidade de tê-los, pelas vias naturais, contando com os avanços da medicina, ou pelas vias da misericórdia, diante de tantas crianças sem lar e abandonadas. Que queira de fato construir uma família.
     Que queira envelhecer junto e voltar a ser criança de mãos dadas. Que aprecie o avanço tecnológico, mas não se escravize a isso e ainda se disponha a escrever, a mão, longas cartas de amor, ridículas e açucaradas, e que sempre me dê flores, ainda que roubadas e não se surpreenda com o fato de eu não comer chocolate.
     Enfim, que tenha amor bastante para preencher-me, mas que também tenha suficiente espaço vazio para receber a dádiva do amor que me vai na alma e que está para ele reservado, maturando-se e adquirindo novos sabores a cada dia, como vinho antigo. Não importa que tenha pés cansados, desde que tenha suficiente fé para acreditar que encontrará em mim o conforto de um sapato laceado, o número exato para pés machucados.
     Bem, se você for este homem que procuro e que espero também esteja à minha procura, não perca mais tempo, caminhe rumo à construção da nossa felicidade. Se você não for este homem, mas conhecer um que se pareça com ele, dê-lhe meu endereço, conte-lhe que estou à sua espera, sem desespero, sem angústia, com calma e serenidade, mas, que já não tenho 18 anos e o tempo não deixará de caminhar apenas para retardar nosso encontro.
     O tempo é agora. Venha! Estarei tomando um chá de erva-doce com pétalas de rosa, sentada na cadeira de balanço da varanda, enquanto você caminha na minha direção. Mas, não se demore por demais, não pretendo perder o viço do que resta da juventude com a qual desejo presenteá-lo. Vem!
izilda.oliveira@usp.br
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