“Se
eu pudesse novamente viver a minha vida, na próxima trataria de cometer mais
erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais, seria mais tolo do que
tenho sido. Seria menos higiênico. Correria mais riscos.[...] Tomaria mais
sorvetes e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos problemas
imaginários.” (Autoria desconhecida)
Esta semana minha irmã foi a uma nutricionista. Saiu da
consulta muito satisfeita e em seguida recebeu um e-mail com uma grande
quantidade de informações sobre alimentação, combinações calóricas e protéicas
e exercícios físicos. Segundo essas instruções, ela deve emagrecer 26 quilos
para atingir o peso ideal e seguir uma dieta rigorosa que inclui até os
horários para tomar água. Também veio junto uma tabela de exercícios físicos e
a quantidade de calorias que se perde por tipo de exercício. Acredito, de
verdade, que a orientação de um profissional da área de nutrição pode ser um
poderoso auxílio na reeducação alimentar e de hábitos, porém...
Porém, não podemos esquecer que cada pessoa é única e não
apenas um exemplar de um determinado biótipo. Minha irmã é mais velha que eu e,
desde que me entendo por gente, ela é gordinha. Seu peso, ao longo dos anos,
alternou um pouco para mais, um pouco para menos, mas, toda a constituição
física dela é de uma pessoa mais cheinha e ela sempre foi linda sendo como é.
Minha mãe também era assim. Eu sou a mais magra da família, mas também tenho
uma constituição óssea grande e, se ficar no peso considerado ideal para a
minha altura, serei um esqueleto. Somos pessoas grandes, de ossos grandes, meu
filho é assim, o filho e a neta da minha irmã são assim. Lembro que minha mãe
costumava brincar dizendo que não queria emagrecer porque as velhas gordas são
mais bonitas.
Se a minha irmã emagrecer os 26 quilos preditos pela
tabelinha feita por um programa de computador, ela deixará de ser a pessoa que
é. Uma coisa é você se alimentar direito, evitar alimentos que possam ser prejudiciais
à saúde, tomar bastante água e fazer exercícios que o façam se sentir bem.
Outra coisa é você se forçar a perder peso a qualquer custo para caber num
padrão, tomar água em horários determinados e fazer exercícios para os quais
seu corpo nem tem condições, sobretudo no caso dela, que tem próteses nos dois
lados do quadril, o que o programa de computador não levou em consideração,
pois ele existe para preparar dietas e condicionamento físicos para biótipos e
não para pessoas.
Às vezes eu me pergunto por que é tão difícil nos
aceitarmos. Se passamos por uma banca de revista, metade delas fala sobre
dietas, a outra metade sobre novelas... e dietas. Aos 13 anos eu já tinha a
altura que tenho hoje, 1,75m. Isso, numa menina de 13 anos é bem complicado, tanto
é que acabei adquirindo um vício postural que carrego até hoje: por mais que me
esforce, ando meio curvada, consequência de ser mais alta que todos à minha
volta e tentar ficar na altura das pessoas. Já que meus amigos não cresciam, eu
me abaixava. Esses dias meu primeiro namorado perguntou sobre mim à uma velha amiga
e ela me contou que ele falou num tom ressentido que fui eu quem terminou o
namoro, coisa que já não faz sentido trinta e poucos anos depois, mas, me pus a
pensar, procurando os motivos de ter terminado com meu namoradinho corintiano e cheguei à conclusão de que um dos motivos
foi o fato de ele ser menor que eu, tanto que tinha e ainda tem um apelido que
termina com “inho”.
Somos muito exigentes com nós mesmos no tocante à
aparência, preocupados com o que os outros admiram ou desprezam em nós. Pura
tolice, sobretudo quando chegamos nesta fase da vida, a meia idade, que
reavalia e readequa todos os nossos valores. Não importa como parecemos, mas,
sim, como somos. Vi uma entrevista com a atriz Rosa Maria Murtinho, que está na
casa dos setenta, e ela disse que a única coisa que a entristece no envelhecer
é saber-se mais próxima da morte. Bem, pode cair um avião na nossa cabeça, como
aconteceu esta semana com o avião do presidenciável Eduardo Campos, mas,
tirando esses riscos imprevistos, cada dia vivido é um dia de experiência a
mais e um dia de vida a menos. Então, o ideal é usarmos essa experiência para
adquirir uma qualidade de vida cada vez melhor, tomando água quando temos sede
e comendo o que nos dá prazer e não põe a nossa saúde em risco.
Como diz o poema da abertura, se pudéssemos viver nossas
vidas novamente, seria melhor tomar mais sorvete e menos lentilha. Eu diria que
não precisamos viver a vida novamente, mas, vivê-la ainda, plenamente,
consultando um nutricionista quando necessário, mas, sem deixar que as
prescrições dele ditem a nossa vida e a encaixe num padrão ideal, porque o
ideal é ser feliz.
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